Até 12 de outubro 2025
Exposição "Virgínio Moutinho - na Oficina do Arquitecto" ocupa vários espaços do quarteirão
Está patente em vários espaços da Casa da Arquitectura a exposição "Virgínio Moutinho — Na Oficina do Arquitecto", uma retrospetiva única que revela quatro décadas de criação artística e experimental do arquiteto e construtor de brinquedos Virgínio Moutinho.
Com curadoria de Marco Ginoulhiac, a mostra explora o universo lúdico e inventivo de Moutinho, atravessando o design, a escultura cinética e a arte urbana, com destaque para a oficina — espaço de experimentação técnica, manual e poética. A exposição apresenta um vasto conjunto de obras que vão de brinquedos artesanais e autómatos a esculturas em grande escala, agrupadas por afinidades conceptuais e formais, criando constelações de sentido entre técnicas, épocas e linguagens.
O programa inaugural inclui uma visita guiada, a projeção do filme Virgínio Moutinho — Arquiteto em Movimento, performance ao vivo e conversa com convidados como Artur Santos Silva e Norma Pott. Em paralelo, a Casa da Arquitectura promove workshops intergeracionais, encontros com o autor e um colóquio internacional, aprofundando os temas e práticas que marcam a obra de Moutinho.
A exposição convida o público a mergulhar num universo de criatividade livre e artesanal, onde a arquitetura se alia à infância, ao movimento e ao espanto. Uma celebração do prazer de brincar — de forma, de ideia e de matéria.
Texto curatorial
Virgínio Moutinho * — Na Oficina do Arquitecto
Texto curatorial
Virgínio Moutinho * — Na Oficina do Arquitecto
“Still crazy after all these years”, o Gino (Virgínio Moutinho) continua a fabricar máquinas desejantes de brincar (desejantes daquilo que, em qualquer lugar de nós, continua a ser capaz de infância).
São máquinas de rasura, feitas de coisas pobres e elementares: madeira, chapa, arame, ar, movimento. E, principalmente, de deslumbramento. Também a infância foi uma vez feita da deslumbrada matéria dos sonhos. Agora, dos nossos sonhos, restam papéis pelo chão, destroços. E resta, como um gnomo antiquíssimo, o Gino apanhando do chão os nossos sonhos. **
Virgínio Moutinho — Na Oficina do Arquitecto reúne um vasto e eclético conjunto de obras executadas desde o início da década de 1980 até às vésperas desta exposição. As peças aqui exibidas não pertencem à tradicional prática arquitetónica, mas, muitas vezes, daí partem — ou dialogam — para se expandirem pelos mais diversos universos artísticos, alguns dos quais difíceis de classificar. Abarcando os múltiplos campos de produção do autor, e sem traçar fronteiras entre territórios linguísticos, temáticos ou técnicos nem procurar uma rígida organização por tipologias ou uma sequência cronológica, esta exposição organiza as peças por zonas vizinhas, agrupadas por afinidades formais, concetuais ou materiais. Esta disposição permite mostrar as constelações de sentido que ligam peças muito distintas entre si, mesmo vindas de épocas diferentes ou de linguagens diversas.
Esta variedade reflete uma atividade profundamente experimental, marcada por uma produção compulsiva e uma alternância constante de temas e técnicas — como que se organizando num ciclo contínuo de reinvenção. A oficina — enquanto espaço físico, mas também como lugar mental e poético — encontra-se no centro desta prática. Local funcional, mas sujo e barulhento quanto baste, a oficina de Virgínio Moutinho tem raiz renascentista, onde arte e artesanato se fundem com ciência e tecnologia.
A arquitetura, campo de formação de Virgínio, serve como pano de fundo ao trabalho de oficina e fornece-lhe o principal instrumento criativo — o desenho — e, de forma mais ampla, a prática da representação como método de análise, invenção e transformação. As permeáveis fronteiras disciplinares da arquitetura permitem constantes incursões e excursões de e para outros campos, mediante processos contaminados por uma necessária ludicidade que se manifesta nas formas e nos movimentos, nos materiais selecionados e nos temas evocados — amiúde, com ironia e até sarcasmo.
A exposição propõe uma leitura da obra de Virgínio Moutinho acessível e compreensível a um público alargado. Independentemente da formação ou da idade, é possível a todos compreender as narrativas exploradas pelo autor, desde as mais próximas do ready-made (que nunca são um puro objet trouvé) até aos mecanismos mais complexos — quer intelectuais quer tecnológicos.
É nesse sentido que Virgínio Moutinho — Na Oficina do Arquitecto se assume como um dispositivo educativo: um convite à redescoberta do mundo a partir de um olhar novo, primitivo, desarmado, livre de preconceitos formais ou funcionais e do excesso de valor apregoado por uma sociedade extremamente intelectualizada. Reativará as memórias sensoriais e afetivas de prazeres já entorpecidos. Os mais novos terão, também, a oportunidade de descobrir modos antiquados de construir brinquedos, ou de reinventar objetos do dia a dia com recurso a gestos simples. Em suma, é uma ocasião de espanto, porque o trabalho de Virgínio Moutinho é, acima de tudo, uma obra próxima e acessível, de todos e para todos. Marco Ginoulhiac
* Virgínio Moutinho (Avanca, 1952) define-se como “arquiteto, colecionador e construtor de brinquedos”. Formado em Arquitetura pela Escola Superior de Belas-Artes do Porto (ESBAP), fundou o seu ateliê em 1976, onde desenvolveu a sua atividade nas áreas do Design, da Arquitetura, da Fotografia e da Escultura. Com diversas obras publicadas e premiadas, manteve sempre uma prática paralela nos campos do Brinquedo, da Escultura Cinética e da Arte Urbana.
** Manuel António Pina, Um Gnomo Antiquíssimo, in https://www.virginiomoutinho.eu/about (consultado a 08/05/2025)
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